Palavras x ações

Hoje li um texto bem bacana sobre fofoca e confiança. Sobre (na minha leitura), se abrir para alguém e ver esse momento de fragilidade escancarado para outros corações, alguns bem menos gentis do que aquele que se pensou digno da confidência. É um texto sobre se sentir traída e, impotente, assistir de longe as interpretações, descuidadas, de um desabafo tão particular.

E aí me peguei pensando sobre a importância que damos às palavras, mais, muito mais do que às ações. Em um trocar o todo pela parte cruel e ingênuo, nos apegamos à frases e comentários como se eles – e não o conjunto de atitudes do outro – resumissem uma pessoa. Não importa que aquela amiga sempre se mostrou fiel e verdadeira. Ao ouvir da colega do primo do chefe do seu ex que essa mesma amiga te chamou de (sei lá) gorda, você vai pensar: “falsa!”

Então, vamos lá, exercício: imaginar o caminho que uma opinião faz para chegar de uma cabeça à outra. Só no processo de ir do pensamento à expressão verbal, essa ideia já perdeu boa parte do seu conceito inicial. Ou vai dizer que você sempre consegue expressar exatamente o que está pensando através das palavras? Não, né. Depois, essa porção do que era sua opinião original é absorvida por um outro cérebro, que, além da singularidade característica dos cérebros (não, não existe um igual ao outro), cresceu e se desenvolveu influenciado por pessoas e situações completamente diferentes das da sua realidade. Ou seja, por melhor que você explique, por mais acertada que seja a escolha das suas palavras, o que você diz vai passar pelo filtro da interpretação alheia, que, sim, vai mudar algumas coisas. E então essa pessoa vai e “reproduz sua opinião”. Ou, melhor dizendo, ela vai e conta, com as palavras dela, a parte da opinião fragmentada que ela conseguiu absorver (naquela mesa de bar, às 2h, bem quando a TV mostrava os melhores momentos de Santos x Cerro Porteño).

Pois é. E as pessoas ainda insistem em confiar apenas nas palavras…

Tem que mostrar em campo

Quem melhor para ilustrar a questão palavras x ações do que o grande imperador do papinho furado Adriano, não é mesmo? Em 2009, o jogador saiu da italiana Inter dizendo que perdera a vontade de jogar futebol e que pararia com a profissão por um tempo. Menos de um mês depois, assinava com o Flamengo. Muitas polêmicas, barraco de namorada, álcool e baladas depois, o craque (craque porque, afinal, com ele o rubro-negro venceu o Brasileirão de 2009) trocou o time carioca por outra italiana: a Roma, que, segundo o consciente atacante, havia lhe dado “um voto de confiança”. Mas… após o título de pior jogador do futebol italiano, no final do ano passado, e o chamado “comportamento inadequado extra-campo”, os romanistas rescindem, em março desse ano, o contrato com o carioca. Seria o fim para o jogador-problema? Nada disso. O Corinthians imediatamente se propõe a salvar o moço que, em seu discurso de apresentação, promete: “Vou lidar com minha vida fora de campo para ter uma sequência boa de jogos”.

E eu vou esquecer todo esse texto, me concentar nessa última frase e acreditar que Adriano foi, de fato, uma excelente contratação.


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A despedida

Manhã de terça (15), salão de beleza, América chega esbaforida. Coloca a bolsa no armário, vê sua lista de clientes na agenda, olha em volta e manda: “Rita, disseram quando vão colocar a TV aqui?” A colega manicure reproduz o que ouviu minutos antes: “É preciso paciência”. A voz alterada de América deixa claro seu descontentamento. “Gente, sem televisão não dá! Ontem cheguei atrasada porque queria ver o Ronaldo se despedindo. Só pensava que não ia dar para ver aqui. Como vou perder ele se despedindo? Tem que ter uma TV!”

Sim, era preciso uma TV. Porque Ronaldo não se despediu apenas do futebol, se despediu da gente. Tudo bem, o peso, as lesões, a idade, a performance em campo… tudo já indiciava seu adeus. Ele tinha avisado, não é mesmo? Disse quando e onde encerraria a carreira. Mas, mesmo sabendo de tudo isso, e mesmo tendo sentido tanta raiva dele em tantos momentos, meus olhos se encheram de lágrimas ao assistirem, impotentes, à despedida de meu ídolo. Eu sei que foi melhor para nós dois. Parar enquanto há respeito e carinho, antes de a relação ser envenenada por cobranças, pressão e decepções. Mas, mesmo assim, eu chorei, viu? Sem vergonha, orgulho ou medo da boca pequena. Chorei por mim e por ele (porque ele também está sofrendo muito que eu sei). E, assim, com essa saudade estranha de quem a gente entende porque foi embora, sabe que não volta e no fundo prefere assim, fui fazer as unhas no dia seguinte.

Em 2011 eu quero…

…mais momentos de alegrias. Perder o ar, embasbacada, ao ver a beleza de um drible e não a hipocrisia de mais um dirigente ou empresário mentiroso. Celebrar os títulos do meu time e não o fato de ele ter ganho mais dinheiro com publicidade. Ver meus ídolos brilhando em campo e não nas páginas de fofoca dos jornais. Quero mais bola dentro do gol e menos bola fora na vida.

Que em 2011 os torcedores troquem a violência pelo amor à camisa – o verdadeiro amor, que se reflete em discutir as questões do time e não em fazer jorrar sangue adversário. Gostaria de ver meus colegas jornalistas mais céticos com relação a boatos de vestiário e menos crentes em sua capacidade nada divina para entender o futebol.

Que eu tenha menos coerência e fórmulas e mais improviso e criatividade. Menos desculpas e mais suor. Menos decepções e mais… paixão pelo esporte.

É só mais um dia

O Ano Novo, se você for pensar, é um dia como outro qualquer. Dormimos na sexta, em 2010, e acordamos no sábado, em 2011. O que mudou? Nada. Trabalharemos na segunda, jogaremos bola com os amigos na terça, reclamaremos do vizinho na quarta. Ligaremos para os pais na quinta, tomaremos uma cerveja na sexta e, no fim do dia, sentiremos que a semana “passou rápido demais” – assim como 2010, aliás. Quer que o ano seja mesmo “novo”? Mude a si mesmo que 2011 te segue!

Os pecados dos clubes

Não se pode pensar em clube como uma empresa. O objetivo de uma empresa é lucrar, até para se manter na ativa. Se isso não acontecer, ela fecha e seus funcionários são demitidos. O mau desempenho de um time reflete em milhares de torcedores indignados e decepcionados. Um clube também precisa lucrar para evoluir, mas seu objetivo é vencer. Mais do que isso, diria que é fazer a vontade de seus fieis (que, afinal, são quem bancam o clube). Bom, esse é o lado prático da coisa.

Em uma análise mais romântica – e fanática – um time é como uma divindade a quem devotados torcedores dedicam corpo, alma e lágrimas na esperança de obter a graça desejada. Se pensarmos por este lado, é irônico como dirigentes, técnicos e jogadores tripudiam sobre os chamados “pecados capitais”.

Da avareza (apego sórdido ao dinheiro) à soberba (arrogância), da inveja (desgosto pelos bens alheios) à preguiça (demora em agir), da gula e ira à luxúria (apego à sensualidade), o fiel do futebol recebe outra lista de pecados de seus ídolos e figuras emblemáticas: Não torcerás a favor do seu time se a vitória beneficiar um rival; não respeitarás títulos dos adversários se, na sua cabeça, eles forem injustos; não admitirás que o seu time está uma b%$#a, preferindo culpar o juiz…

De onde vem?

Segundo o site www.brasilescola.com, pecado é um termo usado para descrever qualquer tipo de desobediência a Deus. Um pecado capital é aquele que necessita de confissão, arrependimento e, às vezes, penitência (na visão católica) para que a alma seja purificada.

Como escolhemos nossos ídolos

Segundo estudo do Atlas do Esporte no Brasil, feito em 2003, mais de 30 milhões de brasileiros jogam futebol pelo menos uma vez por semana. Sabe quantos de nós nada semanalmente? Pouco mais de 11 milhões (lembrando que a costa marítima brasileira tem 7.400 Km). Sim, é um orgulho sermos o “país do futebol”, mas seria ainda melhor se não fossemos o “país do futebol e só”. Se analisarmos a quantidade de craques que formamos nos terrões do Brasil, tendo o futebol como preferência nacional, imagine o número de ídolos que ganharíamos se valorizássemos mais outros esportes. Quantos Cesar Cielos teríamos nos emocionando em pódios, quebrando recordes e nos fazendo crer que, mesmo por alguns instantes, somos os melhores? Porque é isso que o esporte e seus ídolos fazem: nos inspiram e emocionam.

Infelizmente, sob o título de “país do futebol”, com nosso orgulho cego para tudo de errado que este mesmo orgulho permite e alimenta, acabamos reféns de ídolos que há muito tempo já se mostraram simples edsons e não pelés. Adriano fica no banco e o chamamos “Imperador”. E o César que de fato nos traz ouros, orgulho e inspiração? Este esquecemos no instante que o jornal acaba, a novela começa e a vida volta ao seu estado de ordinária.

Quem são essas mulheres?

Muito comum ouvir de uma mulher (bem) casada que o maridão “é ótimo” porque “ajuda na cozinha” e “é um pai super presente”. Considerando que a casa e os filhos são dos dois (não importa quem comprou ou carregou na barriga), ele não “ajuda” coisa nenhuma, apenas faz a parte dele! A não ser em casos em que há um acordo no qual a mulher cuida da casa e o homem sai para trabalhar, pilotar o fogão há tempos deixou de ser função feminina.

(Desta vez) não vou me indignar com os homens machistas. Vou questionar as mães que os criaram e as mulheres que os aceitam. Quem são vocês que perpetuam, com gosto!, a ideologia de que “esposa é profissão”?
Se os homens conseguem ser companheiros tão incríveis quanto são profissionais, as mulheres também são capazes de conciliar as duas coisas. E sem a necessidade de anular sonhos e talentos em nome de uma escolha que há décadas não precisa(ria) mais ser feita.

Não achei o sobrenome

Camile, esposa do ex-jogador Roger, escreveu uma tese em uma pós-graduação em Novo Hamburgo (RS), com o tema: “esposa de atleta profissional de futebol é profissão.” Formada em administração de empresas e agora pós-graduada em Psicologia do Esporte, ela gostaria de fazer parte da comissão do marido, que pretende ser técnico. Ou seja, aparentemente, Camile quer mudar de emprego.

Mau perdedor?

Tem quem tire sarro do lema “Corinthians não vive de título, vive de Corinthians”, defendendo que isso é papo de mau perdedor. Se fosse isso, a nação corintiana, hoje, estaria morta. E não está. Os 30 milhões de torcedores desse time que virou república acordaram normalmente na segunda-feira pós final do Brasileirão. Tomaram café, escovaram os dentes, foram trabalhar. Sim, sem o título e com um gosto azedo na paladar – mas vivos. Porque corintiano não precisa ver o time ganhando para gritar “timão”, não precisa estar na série A para lotar estádio, não precisa de taças para se sentir o maior. Mais do que isso, “Corinthians vive de Corinthians” deixa claro que a massa alvinegra ainda torce, chora e vibra por seu time – e não contra os outros. Coisa cada vez mais rara no futebol, o Corinthians ainda basta para fazer pulsar o coração de quem é louco por ele.

Dizer que não se vive de títulos não é negar a alegria de conquistá-los. Lógico que os corintianos queriam o penta no domingo (ou algum terá a cara de pau de dizer que não?)! A questão aqui é: o quanto significa perder para aqueles que já consideram a vida uma vitória?

Incentivo

Logo após o empate com o Goiás, que levou o Corinthians à terceira posição no Brasileirão (Cruzeiro venceu o Palmeiras, em Minas, por 2 x 1, ficando com o segundo lugar) e, consequentemente, à ter que disputar a pré-libertadores, o time lançou uma nova camiseta, com os dizeres: “Muitos vivem de títulos. Nós vivemos do Corinthians”.

…ou esperteza?

O ano do centenário foi um fiasco. Por pior que tenha sido o desempenho de Palmeiras e São Paulo neste Brasileirão, nada se compara à junção de todas as derrotas do Corinthians no ano que deveria ter sido o da conquista da Libertadores! Com razão, o time virou o principal alvo de piadas no futebol paulista (nacional?). Assim, é muito inteligente da equipe de marketing do clube apelar para a paixão dos “loucos por ti Corinthians” para desviar atenção de toda a grana investida em uma campanha – a do centenário – que se provou falida. Afinal, quem torce para time que não vive de títulos não se dá o trabalho de cobrar equipe e dirigentes por vitórias, né?

No fundo, eu gosto do Palmeiras

Eu gosto do Palmeiras. Gosto da tradição do time e da torcida, com seus septagenários de boinas marrom, famílias divertidas e grupos de amigos que cresceram juntos. Gosto das bandeiras italianas misturadas ao “alviverde imponente”. Mesmo a região onde fica o Palestra: assim como a torcida, o Bairro de Perdizes parece sustentar um clima de… fraternidade.

Gosto do Marcos e de seus mais de 500 jogos defendendo o gol palmeirense. Sem falar no Felipão! Técnico que deu o penta ao Brasil em 2002, não tem como não gostar. Acima de tudo, no entanto, o que eu mais gosto no Palmeiras são meus amigos palmeirenses. Ao contrário de muitos que torcem para outros times, eles (ainda) têm um amor pelo jogo que ultrapassa o simples prazer de vencer. Há os que discutem futebol usando títulos como argumento e há os palmeirenses que, mesmo com toda a sua tradição e suas vitórias, conseguem dialogar sobre o esporte sem perder o foco no que realmente importa: o Palmeiras.

Por isso gostaria mesmo de ter como consolar meus colegas nessa fase (alvi)negra do Brasileirão – e da Sul-Americana! -, mas, infelizmente… a diretoria do Palestra, aqui, parece ainda pior do que o Berlusconi lá na Itália…

Juninho paz e amor

A joia do Santos foi exaustivamente (e merecidamente) chamada de “moleque” e esteve no centro de algumas boas polêmicas no universo do futebol neste ano. Mas Neymar – que agora quer ser chamado de Neymar Jr. ou Juninho – parece estar se comportando nestes últimos meses, não? Vamos observar.

Time mediano

Mediano. Nem bom, nem mal. Não tem grandes ideias no trabalho, mas sempre faz o que pedem. Não é o amor da vida de alguém, mas se dá bem com a sogra. Tem gente que é assim, passa a vida toda na zona intermediária. Por insegurança, preguiça ou mesmo arrogância, esse cara dificilmente briga pelo título. Suas vitórias são para disfarçar as (feias) derrotas, proporcionando alegrias como se apenas para munir a cegueira (ilusão necessária?) dos que insistem em admirá-lo. E ele parece bem assim. Até, claro, ver cair em suas mãos a oportunidade de “expor” aquele que, por suas conquistas, acaba por evidenciar a vergonhosa campanha de quem tinha tudo para estar no topo – e não está. E então, salivando por vingança (não do outro, mas de sua própria mediocridade), nosso amigo mediano dá à inveja o nome de rivalidade, une-se a quem chamava de inimigo e, com gosto, questiona: “é este o grande?”

Mas aí já é tarde. Com sua fragilidade escancarada, ninguém mais olha para o “perdedor” que o mediano insiste em apontar. Todo mundo já percebeu que o perdedor é, na verdade, aquele que, de tão insosso, só pode mesmo contar com a derrota alheia para se sentir menos… sofrível.

Entregar?

Impressionante a atuação de Deola no gol do Palmeiras no jogo contra o líder Fluminense. Não só porque o paranaense não é exatamente conhecido pelas boas defesas que fez no último domingo, mas por resistir à pressão da torcida alviverde, abertamente torcendo a favor do adversário e, com isso, contra o rival Corinthians. Como previsto, o time carioca ganhou (2 x 1). Como previsto, o Palmeiras permanece na zona intermediária.