Diremos que a vida segue…
Nós diremos que a vida continua. Que foi só um jogo e que nada vai mudar por causa desse resultado. Nós nomearemos “culpados” e, sobre eles, descarregaremos toda a nossa raiva e frustração. Nós pensaremos “como somos idiotas” por torcer tanto para quem, à vezes, parece nem lembrar que existimos. Nós transformaremos a paixão por futebol em “patriotismo burro”, só para amenizar um pouco a sensação de amantes que, ingênuos, se entregam só para sair com um coração partido. Nós faremos piadas! Muitas piadas para, com graça, esquecer um pouco da desgraça e seguir em frente. Nós retomaremos o amor pelo “time do coração” e diremos que “só ele importa”. Nós celebraremos a derrota argentina e o choro de Maradona como se a Holanda jamais tivesse feito aqueles gols. É, nós diremos que a vida continua. Ela continua apesar da raiva, da mágoa, das lágrimas… da derrota. Nós diremos que ela continua.
E quem vai nos consolar?
Nesta briga entre o Dunga e a imprensa quem saiu perdendo foi o torcedor. O torcedor que não conseguiu jamais comemorar uma vitória brasileira sem antes ser “alertado” sobre o próximo jogo e sobre as dezenas de “pontos falhos” do time escolhido pelo técnico. O torcedor que não ouvia os jogadores nem pode ter seus gritos de apoio ecoados para os atletas lá na África. O torcedor que até agora não sabe direito o que aconteceu. Com o Dunga, com a imprensa, com aquele segundo tempo…
Coluna publicada no jornal MAIS em 04/07/2010