A joia do Santos foi exaustivamente (e merecidamente) chamada de “moleque” e esteve no centro de algumas boas polêmicas no universo do futebol neste ano. Mas Neymar – que agora quer ser chamado de Neymar Jr. ou Juninho – parece estar se comportando nestes últimos meses, não? Vamos observar.
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Questão de hierarquia?
Esse lance de hierarquia é um problema para mim. Não só porque minha relação com “superiores” sempre foi de amizade e diálogo, nunca de medo, mas também porque eu acho essa coisa de “respeitar a autoridade de fulano” repressora demais para a minha concepção de como deveriam ser as relações humanas. Dos meus pais aos meus chefes, sempre respeitei quem me respeitou e, mais ainda, quem me mostrava, diariamente, com suas ações e exemplos, por que ocupava a posição que ocupava.
Afinal, existe uma gigantesca diferença entre ser respeitado e ser temido. Quem prefere ganhar na base do grito e, convenientemente, confunde silêncio com respeito, obediência com admiração, jamais vira ídolo. Arrogantes e fúteis, passam a carreira imersos em sua glória solitária. O verdadeiro líder, livre da insegurança dos que se sabem medíocres, consegue o respeito almejado simplesmente… fazendo um bom trabalho. Em uma rotina que enaltece o talento dos outros, absorve críticas construtivas e assume erros com a admirável coragem dos que se permitem mudar de opinião. E então a hierarquia aparece de forma tão natural que, de imposição, vira necessidade.
A decisão do (agora) ex-técnico santista Dorival Júnior em não colocar Neymar para jogar contra o Corinthians, na quarta (22), não era só uma questão de punir a “malcriação” do craque. Tratava-se de se estabelecer como o líder que, ao contrário do moleque que recorre à arrogância para marcar território, sabe como agir para que todos o reconheçam como o único e verdadeiro chefe do grupo. Infelizmente para o recém-desempregado Dorival, a diretoria do Santos abraçou a causa daqueles que, como os caciques da Vila Belmiro, preferem impor sua hierarquia na base do grito ou, nesse caso, da demissão.
Ah, e só lembrando: o Corinthians venceu a partida por 3 x 2, mesmo com um gol de Neymar, que jogou os 90 minutos.
Criança mimada
Criança mimada é fogo. Dá escândalo no shopping, faz birra quando é contrariada, não divide os brinquedos. Mas o pior mesmo, tratando-se de crianças mimadas, é a sensação de impotência. Afinal, o filho não é seu. Você não pode olhar para o moleque e dizer “para com isso a-go-ra”. Até porque, mesmo se dissesse, quem garante que teria sua voz respeitada?
Eu dei escândalo no shopping uma vez. Minha mãe, uma nordestina “pouco” nervosa, me deixou aos berros e seguiu seu caminho. Sem obter a atenção que desejava, e sabendo que ela não cederia, engoli as lágrimas (que nunca existiram) e corri, comportada, para perto de meu porto seguro.
O Neymar, nesses últimos jogos, me lembrou um menino mimado. Mas, para nossa sorte – e culpa -, ele não é “filho dos outros.” Quem mimou o jogador fui eu. Foi você. Tudo bem que a maior parte de toda essa marra vem da imaturidade e ignorância do titular de apenas 18 anos, mas muito também vem da exagerada “babação de ovo”, permissividade e encantamento cego com que a imprensa, o torcedor e o Santos trataram o craque. Se há tempo para “reeducá-lo”? Algo me diz que o processo já começou.
Bob Pai, Bob Filho
Quando criança, eu adorava o desenho dos cachorros “Bob Pai, Bob Filho”. O pai, bem bobo e ingênuo, era o ídolo do filho. Não sei por que lembro dessa dupla sempre que leio algo na imprensa sobre o Neymar…
Lembre-se do Neymar
Tem uma parte do “Poema em linha reta”, do português Fernando Pessoa, que diz assim: “Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe. Sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?” Engraçado como às vezes a gente tem mesmo essa sensação, não é? De que apenas “a idiota aqui” erra e passa vergonha. Mas, olha, vou contar duas coisas que descobri há algumas semanas: todo mundo se sente assim em algum momento do dia. Não do mês ou da semana, do dia. Pode ser culpa do chefe que exagerou na bronca ou do buraco na rua que fez com que tropeçasse. Você vai se sentir meio bobo. A outra descoberta é que, com a mesma frequência, tem gente por aí pagando micos muito maiores e em escala nacional. Veja o Neymar, do Santos, e sua “cavadinha” malsucedida, por exemplo (no dia 29 de julho, no jogo contra o Vitória, que o Santos ganhou por 2×0). Imagine como ele se sentiu na hora e depois, com toda a gozação em cima do “feito”! Pois então, na próxima vez que escorregar na rua, logo após disfarçar e seguir como se nada tivesse acontecido, lembre-se do Neymar e tudo ficará bem. Sério, funcionou para mim ;-)
Coluna publicada no jornal MAIS, em 1/08/2010
Debate ou blá-blá-blá?
Não tem jeito: se há um grupo de homens reunido, o assunto futebol
inevitavelmente vira pauta da conversa. Aliás, se o ambiente for
favorável (pense em um bar), bastam dois representantes do sexo
masculino para temas como a validade do Mundial de Clubes conquistado
pelo Corinthians em 2000 ou a qualidade do time de Dunga virarem debates
fervorosos.
Para quem está no bate-papo, o assunto parece a grande discussão do
momento, com resoluções capazes de mudar o mundo. Mas, para os que
apenas observam, em especial se a pessoa não é lá muito fã do esporte
(pense em grande parte das mulheres), tais falas soam como repetidos
blá-blá-blás em entonações variadas. Para este mero espectador, que
inevitavelmente enfrentará perguntas como “lembra disso?” ou “não
concorda comigo?” e para as quais não tem ideia da resposta, minha dica
é: saia de fininho. Ou então aprenda quem, afinal, é esse tal de André.
Mulheres e futebol
Se você de fato deseja a companhia de uma mulher (deseja mais do que
provar ao amigo que o Neymar deveria ter ido à Copa), mas a conversa da
galera debandou para o futebol, procure:
1- pelo menos situar a moça. Por exemplo, não diga só “Mourinho”, mas “Mourinho, técnico do Real Madrid, onde joga o C. Ronaldo”.
2- jamais perguntar se ela lembra de um lance (a gente não lembra!).
3- mudar de assunto.
O título, 15 anos depois
Pergunte para qualquer santista sobre o jogo que marcou sua vida. A resposta certamente será a semifinal do Campeonato Brasileiro de 1995, contra o Fluminense, quando o camisa 10, Giovanni, deu um show de bola e garantiu para o Peixe a vitória por 5 a 2. Muitos torcedores alvinegros, inclusive, dirão que foi justamente essa partida que os inspiraram a torcer para o Santos. Um homem, um jogo e milhares de “novos” torcedores conquistados, fascinados, apaixonados. Algo como o que o São Paulo de Telê fez à torcida tricolor em 92. Algo como o que esses “meninos da Vila” podem fazer, novamente, pela torcida santista em 2010. Restaurar a paixão pelo time o quarteto dançarino já conseguiu. Resta ver, hoje, se esses novos ídolos serão lembrados, em 15 anos, não só por darem ao Santos o título do Paulista de 2010, mas por terem encantado os fãs de futebol ao ponto de eles virarem… santistas.
Para lembrar
O “jogo da vida” de muitos santistas aconteceu no dia 10 de dezembro de 1995. Santos e Fluminense se enfrentavam pelo jogo de volta da semifinal do Campeonato Brasileiro, no Pacaembu. Na ida, os cariocas golearam por 4 a 1. O Peixe precisava de pelo menos três gols de diferença para chegar à decisão. Sob a magia de Giovanni, o Santos fez 5 a 2. Na final, perdeu para o Botafogo. Agora, 15 anos depois, o Messias pode, pela primeira vez, conquistar um título pelo Santos.
Coluna publicada em 02/05/2010 no jornal MAIS