Poucas coisas nesse mundo são tão perigosas quanto uma pessoa insegura. O cara mais gente boa do escritório decide que não tem mais tempo para ajudar os outros, o irmão legal vira expert em apontar os defeitos da “filha prodígio” e a amiga querida, de repente, precisa da atenção do namorado da colega para se sentir menos gorda.
Tentar entender não ameniza a mágoa, mas ajuda. Pensar que, motivada pelo instinto de sobrevivência, a pessoa cria uma justificativa totalmente razoável – na cabeça dela – para fazer o que fez facilita o processo de digestão. Ela não agiu assim porque é do mal; ela fez porque precisava fazer, precisava se sentir menos desconfortável em sua própria (e não raro imaginária) inferioridade.
O inseguro, ao mesmo tempo em que se percebe defasado em habilidades que julga importantes, quando as reconhece no outro, passa a identificá-lo como ameaça. E então reage. Transpira desdém sobre tudo aquilo que, no fundo, gostaria de possuir ou, na outra ponta, passa a injetar em si próprio, pelo menos no discurso, os tão sonhados adjetivos.
O pior tipo de insegurança, no entanto, não é a que vem do outro, é a nossa. Porque o outro, cedo ou tarde, será reconhecido como o coitado que falhou em disfarçar sua própria mediocridade. Ou então, melhor ainda, vira o cara que nos deixou mais fortes e seguros! Agora, quando a insegurança vem da gente, nos impulsionando não a reagir, mas a permanecer imóveis, aí temos um problema. Fracos, indignos, nem de longe bons o bastante: essa é a insegurança que todos os outros inseguros, agora vitoriosos, conseguiram nos fazer ver como real. E aí?
Aí você entra em campo mesmo assim, olha o adversário nos olhos, acena para a torcida e lembra que é, que sempre foi, maior que isso tudo.