O verdadeiro Davi

De um lado, Luiz Felipe Scolari e um currículo que inclui 15 títulos nacionais e internacionais – sem contar uma Copa do Mundo (2002) -, experiência de quase 30 anos e R$ 700 mil mensais de salário. Do outro, Sérgio Baresi, que, nestes pouco menos de seis anos como técnico, conquistou uma Copa São Paulo de Futebol Júnior e… só. Salário? Vamos chutar (bem) alto: nem um décimo do que ganha Felipão.

Vendo por esse lado, o clássico de ontem parecia mais um embate entre o gigante Golias e o menino Davi. Mas bastava uma olhada na tabela do Brasileirão para ver Palmeiras e São Paulo juntinhos, na 11a e 12a posição, respectivamente. E não eram somente os números no campeonato que aproximavam os técnicos: além de comandarem um grande time, ambos vinham de séries de derrotas (permeadas por algumas poucas vitórias), vira e mexe estavam na delicada posição de “se explicar” para dirigentes, torcedores e imprensa e, se tudo isso não bastasse, lideram equipes que simplesmentem pareciam não engrenar!

Se, no final da batalha mitológica entre Davi e Golias, o primeiro derrotou o segundo usando uma simples funda (espécie de estilingue), neste cenário tenso e por vezes entediante que figurava os jogos de Palmeiras e São Paulo, a esperança era que o verdadeiro Davi do clássico, a torcida, pudesse sair vitoriosa dessa longa e frustrante batalha contra o temido gigante da “crise”. Se saiu? Descontado o enfadonho primeiro tempo, o grupo tricolor certamente sentiu que o seu interino e a boa surpresa Lucas/Marcelinho acertaram em cheio o “Golias” da má fase. Bom, pelo menos nesta rodada…

E Felipão?

Ainda vem de séries de derrotas (permeadas por algumas poucas vitórias), vira e mexe está na delicada posição de “se explicar” para dirigentes, torcedores e imprensa e, se tudo isso não bastasse, lidera uma equipe que simplesmentem não engrena! O que mudou? Passou da 12a para a 13a posição na tabela e, expulso, foi de “precisamos de tempo para melhorar” para “a arbitragem está me perseguindo”…

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Jogadores ‘imprestáveis’

Todo mundo ou ninguém é substituível? Pense nos seus colegas de trabalho. Quantos, se demitidos, realmente fariam falta? Você faria falta? Ou, com alguns meses de treino, outra pessoa poderia desempenhar a sua função com a mesma qualidade e comprometimento?

E então você se questiona: como poderia me tornar insubstituível? Uma maneira é centralizar as grandes decisões em você. Menosprezar a capacidade dos colegas em fazer escolhas acertadas, bradar suas vitórias e tornar o time, de certa forma, dependente da sua atuação. Injusto com a equipe? Extremamente. Repressor quanto a novos possíveis talentos? Muito. Mas, como o que importa é subir na tabela e como, no fundo, você sabe que é, sim, substituível, você perpetua o coronelismo/populismo que o lançou à categoria de “lenda”.

Outra maneira é simplesmente ser muito bom no que faz, mostrar-se de fato preocupado com o grupo, transbordar paixão pelo ofício e saber que até os grandes líderes podem ser trocados. A diferença é que, estes, além de virarem referência, não são jamais esquecidos.

Rogério Ceni = ídolo

 
“O Sócrates é invendável e imprestável”, já dizia Vicente Matheus. O Dagoberto, do São Paulo, por exemplo, é um cara que faz diferença em campo, como visto no jogo do Tricolor contra o Atlético-GO (e primeira vitória do técnico Sérgio Baresi), na quinta (2), mas não é “imprestável”. Se ele sair, outros brilharão. Agora, Rogério Ceni… este, sim, soube se tornar inesquecível.